domingo, 27 de fevereiro de 2011

Anotações de palestra proferida pela professora Lucy Green sobre aprendizagem musical não formal

Palestra da professora Lucy Green (LONDRES – Inglaterra) em 11 de agosto de 2008 na UFMG
I Simpósio de Sociologia da Educação Musical: música popular, aprendizagem informal e educação

Anotações sobre Relato de Pesquisa em Aprendizagem Musical Não Formal, desenvolvida em escolas de regiões periféricas da cidade de Londres.


Questões básicas:

1. Como os sujeitos abordaram o processo de aprendizagem musical não formal?

2. Que tipos de atitudes e valores trazem para o processo de aprender música?



ENCULTURAÇÃO: imersão nas práticas musicais e no ambiente cultural. Papel mais importante em alguns estilos musicais. Dois modos de aprender por enculturação:


1. enculturamento na “falta” de habilidades musicais

2. enculturamento por reforço, interatividade, participação

Envolve: performance, criatividade (compor música) e ouvir música.

A maioria dos músicos populares são aprendizes por enculturação, por imersão continuada e por imitação.

No experimento, músicos experientes são inseridos em oficinas com músicos experientes (a maioria dos músicos jovens não está envolvida nesse tipo de experiência).

A disponibilidade dos músicos para essa participação deu-se costumeiramente através de comunidades de colegas.


PRÁTICA SOLITÁRIA DE APRENDIZAGEM:


1. ouvir e copiar gravações

escuta intencional - ouvir com o propósito consciente de aprender;

escuta não-intencional - ouvir de forma incidental (aprendizado subconsciente)


“O aprendizado por escuta não-intencional se prolonga pela vida profissional”.

Tocar com amigos é muito importante: atividades em grupo juntamente com a aprendizagem solitária. Não envolve adulto orientando:


a) atividade consciente (mostrar pra ser copiado pelos colegas): aprendizagem dirigida por um colega.

 b) sem orientação consciente: aprendizagem por observação e cópia durante o ato de fazer música e por meio de conversas sobre música (sempre há o que demonstrar, o que aprender, gerando troca de idéias - composição em grupo)


TOCAR / OUVIR / CRIAR: necessários ao trabalho em grupo (aprendizagem dirigida consciente ou inconsciente) sem a presença de um orientador e líder.

NOTAÇÃO MUSICAL: usada pouco nos meios populares e descartada após aprender a música. A notação, quando usada, é sempre acompanhada de referência gravada. A aprendizagem por imitação traz informações que não estão escritas.

ADQUIRINDO TÉCNICA: aquisição tardia por músicos informais

TEORIA MUSICAL: escuta como forma principal de aprendizagem. Teoria conduzida pela excitação de aprender mais.

DESENVOLVIMENTO DO OUVIDO: resultado da ênfase no “escutar”


ESTUDANDO O INSTRUMENTO: somente por prazer, quando dá vontade.

 

ATITUDES E VALORES DOS MÚSICOS POPULARES:


a) “feel”: sentimento, sensibilidade, espírito;

b) o que mais valorizam em outros músicos: amizade, cooperação;

c) comprometimento e sensibilidade (necessária à sobrevivência do grupo);

d) prazer: juntamente com amor e paixão pela música, está acima de tudo;

e) auto-estima: ficou claro que todos tiveram sua auto-estima elevada por tocar em uma banda de rock;

f) outras músicas: gosto amplo, respeito generalizado pela música clássica.

 
Marcos Bassul


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Quem pode aprender música?



O aprendizado musical, ao contrário do que a maioria pensa, não é prerrogativa de sujeitos “iluminados” que nasceram com o “dom” de cantar ou tocar. Essa questão do “dom”, inclusive, vem sendo discutida há algum tempo e o que se tem de mais concreto é que a crença na sua validade é o primeiro empecilho para o pretendente a estudante de música. Considerações do tipo “eu não dou para isso”, “não tenho o dom”, “sou desafinado”, “não tenho voz” e outras muitas que ouvimos por aí, constituem-se na primeira e mais poderosa barreira para o desenvolvimento musical. Junte a isso a incompreensão que se vê em muitos lares e em discursos do tipo “música não dá dinheiro” ou “música é coisa de vagabundo” e você terá a receita ideal para nunca aprender música.

Sabemos, é claro, que a música tem fortes ligações com reações pessoais ligadas à expressividade, ao sentido rítmico, ao gosto estético e outras que estão ligadas ao tipo de ambiente em que vive o cidadão. O ambiente  pode ou não ser favorável ao desenvolvimento dessas características, pois as mesmas são inerentes a todo o ser humano. Mas só o ambiente não é suficiente para detonar um processo de aprendizado musical. A música exige compometimento pessoal, disciplina e abertura, envolvimento. Se lêssemos música desde a infância na mesma proporção em que lemos livros leríamos uma partitura musical com a mesma facilidade com que lemos uma frase escrita. Se tivéssemos desde a infância instrumentos a nossa disposição para experimentarmos e descobrirmos, poderíamos criar músicas com a mesma fluência que temos ao construir uma frase verbal.

Portanto, a não ser que você tenha algum problema físico ou psicológico que o impeça de cantar ou tocar um instrumento, você pode aprendê-lo.

As discussões a respeito do que foi dito acima ainda vão durar muito porque envolvem processos internos que se manifestam a grandes profundidades mentais que a psicologia vem tentando alcançar. De concreto, o que vale para nós neste momento é o seguinte: a música pode ser aprendida sim. Estude, discipline-se, envolva-se, pesquise, pergunte, improvise, faça acontecer! Essa é a realidade concreta de toda a cultura humana.
 
Marcos Bassul

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CIDADANIA OU LEI DE GERSON?



Ontem, estava eu há mais de vinte minutos em pé no Cartório do 1º Ofício de Notas, na QE 11, Guará I, Brasília, aguardando pacientemente a chamada de minha senha quando ouvi chamarem “senha preferencial 46, guichê 12”. Não era o meu caso, minha senha ainda não é preferencial, mas, nesse momento, vi um rapaz que aparentava não mais do que trinta anos, não mais do que setenta quilos de peso, de calção, tênis e camiseta identificando algum tipo de profissional ligado à educação física, levantar-se e dirigir-se à esquerda, em direção à sala onde ficam os guichês. Não tinha visão para conferir se era ele quem se dirigia ao guichê de número 12, mas, de qualquer forma, não me passou essa idéia pela cabeça, afinal, seria muita cara de pau e, além do mais, tinha certeza de que, se fosse esse o caso, a atendente não aceitaria sua senha sem justificativa.
Alguns minutos depois fui chamado ao guichê 11 para atendimento e, para minha surpresa ao chegar ao meu destino, notei que o tal rapaz tinha acabado de ser atendido no guichê 12, com a senha preferencial. Não pude resistir e perguntei à atendente do guichê 12 porque o referido rapaz havia sido atendido com senha preferencial já que não era idoso, grávido, deficiente físico e não carregava nenhuma criança no colo. Minha maior surpresa veio com a resposta da atendente: “ele apresentou a senha e eu atendi. Você queria que eu expulsasse ele?”.
Depois dessa resposta animadora me dirigi a um dos responsáveis pelo Cartório e relatei o fato, o que não causou a ela (uma das responsáveis) nenhuma estranheza, o que me fez baixar a cabeça, me resignar e ir embora indignado.
Sinceramente, não sei o que é mais triste nessa história: se a falta de competência e profissionalismo da atendente que não dá o devido valor a uma lei que foi criada para favorecer aos que precisam, a atitude da funcionária responsável que, pela expressão não achou nada demais no fato, ou a cara de pau do cidadão que se acha com mais direito do que todos os outros que estavam esperando, no mínimo trinta minutos, para serem atendidos.
Por isso e por outros fatos corriqueiros com os quais convivo no dia a dia, não tenho a ilusão de que no Brasil possamos um dia ter uma classe política séria, incorruptível, trabalhadora e honesta. Afinal, uma das coisas que diferencia o brasileiro de outros povos, o chamado “jeitinho brasileiro”, que faz um cidadão “gersonianamente” querer sempre levar vantagens sobre outro é motivo de orgulho para uma grande parte da população, que, se um dia chegar ao poder, não vai mudar, vai provavelmente, se aproveitar mais, como um bando de sanguessugas sedentas de poder e dinheiro.
Infelizmente, hoje para mim, este é o retrato da grande maioria dos cidadãos brasileiros. Portanto, “A César o que é de César”. Ao Brasil o que toca o povo brasileiro: políticos corruptos, empresários ladrões e um povo que morre vontade de ocupar o lugar de qualquer um deles

Marcos Bassul
Brasília (DF), 24 de fevereiro de 2011.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Evolução da Educação.

O texto abaixo me foi mandado por email e não consegui saber quem é o autor. Está disponível em vários blogs da internet e se alguém conhecer o autor, por favor, me avise. É praa refletir, no mínimo, principalmente se você é um educador.

A Evolução da Educação.

Antigamente se ensinava e cobrava tabuada, caligrafia, redação, datilografia… Havia aulas de Educação Física, Moral e Cívica, Práticas Agrícolas, Práticas Industriais e cantava-se o Hino Nacional, hasteando a Bandeira Nacional antes de iniciar as aulas.

Leiam o relato de uma Professora de Matemática:

Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer. Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender. Por que estou contando isso?
Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1950:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
  • ( )R$ 20,00
  • ( )R$ 40,00
  • ( )R$ 60,00
  • ( )R$ 80,00
  • ( )R$ 100,00

5. Ensino de matemática em 2000:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00.
Está certo?
  • ( )SIM
  • ( ) NÃO

6. Ensino de matemática em 2009:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00.
  • ( )R$ 20,00
  • ( )R$ 40,00
  • ( )R$ 60,00
  • ( )R$ 80,00
  • ( )R$ 100,00

7. Em 2010 vai ser assim:

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00. (Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social não precisa responder)
  • ( )R$ 20,00
  • ( )R$ 40,00
  • ( )R$ 60,00
  • ( )R$ 80,00
  • ( )R$ 100,00
Todo mundo ‘pensando’ em deixar um planeta melhor para nossos filhos… Quando é que ‘pensarão’ em deixar filhos melhores para o nosso planeta?”

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

CANCIONEIRO INFANTIL BRASILEIRO

Aí vai um texto que li quando fazia graduação e que até hoje não sei de quem é, mas vale a pena dar uma lida:



Cancioneiro Infantil Brasileiro


"Eu, um brasileiro morando nos Estados Unidos da América, para ajudar no orçamento, estou fazendo "bico" de babá e estudante. Ao pôr para dormir uma das meninas de quem eu "teoricamente" tomo conta, uma vez cantei "Boi da cara preta". Ela adorou e essa passou a ser a música que ela sempre pede para eu cantar ao colocá-la para dormir. Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, a canção que cantávamos (em Inglês) dizia algo como: Boa noite, linda menina, durma bem. Sonhos doces venham para você, Sonhos doces por toda noite"... (Que lindo, né mesmo!?)

Eis que um dia Mary Helen me pergunta o que as palavras em português da música "Boi da cara preta" queriam dizer em Inglês: "Boi, boi, boi, boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta..." (???). Como eu ia explicar para ela que, na verdade, a música "boi da cara preta" era uma ameaça, era algo como "dorme logo, caralho, senão o boi vem te comer"? Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina? Claro que menti para ela, mas comecei a pensar em outras canções infantis, pois não me sentiria bem ameaçando aquela menina com um temível boi toda noite... Que tal! "nana neném que a cuca vai pegar..."? Caramba... outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!

Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro que fosse positiva e de uma longa reflexão, eu descobri toda a origem dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isso acontece? Trauma de infância! Trauma causado pelas canções da infância. Vou explicar: Nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta porrada da vida e ficamos quietos.  Exemplificarei minha tese:

Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca-ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu
Miaaau!

 Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre gato) e crueldade. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "D. Chica". Uma vergonha!

Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces!! É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância com
um carrinho cabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico... Fala sério!!!!


Vem cá, Bilu! vem cá, Bilu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.


Quem é o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bilú...


Marcha soldado, cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.


De novo: ameaça. Ou obedece ou você vai se fu... não é à toa que brasileiro admite tudo de cabeça baixa...


A canoa virou,
Foi deixar ela virar,
Foi por causa da (nome de pessoa)
Que não soube remar.


Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar o dedo e condenar um semelhante. Bate nele, mãe!!

Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.


A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada, necessita de cuidados médicos mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bilú.

O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...

Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?


O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
Desgraça, desgraça, desgraça!!! E ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe). Precisamos lutar contra essas lembranças, meus amigos!!! Nossos filhos merecem um futuro melhor!!!

 (autor desconhecido)

A estranha origem do frevo por Benjamin Lima


A estranha origem do frevo
Benjamin Lima
Como todas as coisas humanas, têm as danças o seu destino. Era, por exemplo, o do frevo, que ele gastasse alguns anos para conquistar o Rio de Janeiro. Mas, enfim, acaba de conquistá-lo e, ao que parece, de maneira completa e definitiva, consoante, aliás, se devia prever dado o extraordinário valor coreográfico dessa criação da patuléia do Recife.
Para se apreender com rigor aproximado a lentidão de tal vitória, é preciso ter-se presente a lembrança de que, há mais de um lustro pelo menos, estudantes pernambucanos, partidos em excursão artística, já realizaram aqui, demonstrações de bailados típicos de sua terra.
O êxito que obtiveram, foi chamado um tanto paradoxalmente de "de estima", e circunscreveu-se, além disso às rodas de profissionais e diletantes, onde reina constante preocupação com esses assuntos.
Nada se observou então, que envolvesse um prenúncio, vago sequer, da valorização do frevo no meio da gente carioca. E haver assim acontecido é motivo de estranheza, porque dois fatores prometiam, juntos, o contrário: a enorme fascinação dessa dança e a formidável animação dessa gente.
Dir-se-ia que o samba e a marchinha, um embalador e a outra agitante, satisfaziam por inteiro aos moradores desta capital, inibindo-os até de perceber os encantos novos de artigos congêneres de importação.
Aceita, porém, a nossa hipótese, deve-se acreditar que o inevitável se deu por fim: gastaram-se aquelas músicas porque demasiadamente ouvidas e cederam o caminho a tudo quanto pudesse conter uma esperança de novidade.
O frevo, que aguardara pacientemente a sua hora, confiante na dupla sedução dos seus compassos e dos seus "passos", investiu a praça, e ai esta dominando-a, como e natural, tanto pela singularidade das melodias quanto pela excentricidade das marchas.
A fim de fugir a todo exagero, limitemos-nos a dizer que é um irmão condigno do samba e do maxixe, podendo figurar, junto aos dois, no ápice da coreografia brasileira de invenção plebéia.
Talvez, entretanto, porque menos conhecido, menos estudado, possui o frevo características das quais pode provir, para ele, uma situação de certo privilégio no quadro de inventos de nossa raça em matéria de dança
Caprichosas, extravagantes, exdrúxulas são as figuras já fixadas e sistematizadas de que ele se compõe. O frevo é verdadeiramente acrobático; e as acrobacias a que obriga, muitas delas dificílimas a ponto de procurarem ação em truques proverbiais dos equilibristas, como o emprego de guarda-chuva ou de sombrinha, distinguem-se todas por muito de coreograficamente imprevisto, até mesmo de anatomicamente monstruoso. Compele ao fingimento de anomalias horríveis e de aleijões inéditos. Não pode existir, em todo universo, dança que mais desarticule e deforme. Assemelham-se-lhe, mas apenas de longe, o swing e a rumba, no poder caricaturante. Chega nele ao cúmulo o dom de afetar quem o dança. É um bailado essencialmente grotesco. E, nada obstante, representa um dos espetáculos mais empolgantes para quem saiba estimar devidamente essa forma de arte.
Pois, sem embargo da multiplicidade e da variedade das suas figuras, marcas e passos, o frevo deixa --- e esse deve ser um dos segredos do seu fascínio -- uma bem dilatada margem para o desenvolvimento da capacidade de invenção que haja nos dançadores, porventura. Cabem nele todas as fantasias e extravagâncias. É, por excelência, uma dança de improvisação. Quem praticando-a pretender glórias incontestáveis, precisa revelar-se forte na prática penosa do repentismo. Tem-se, pois, o direito de enaltecê-lo como sendo, na esfera da coreografia, uma escola de individualismo e de gênio...
Com esse conjunto de predicados estranhos, como poderia o frevo deixar de ter uma estranha origem? Parece que não há duas opiniões a respeito. Ele nasceu, em forma embrionária, é bem de ver, quando o molecório da capital pernambucana se habituou a formar na frente das bandas de música, fazendo "visagens" -- como hoje se diz -- gingando e dançando ao som das marchas e dobrados. Eram vagabundos na maior parte, e desordeiros, malfeitores mesmo, em grande percentagem. Equivaliam, pois, com todo o rigor, aos capoeiras cariocas dessa mesma época. E, assim, aproveitavam-se da oportunidade, que era de ajuntamento e confusão nas ruas, onde todos os transeuntes queriam ver a passagem das orquestras marciais e volantes, para fazerem toda a sorte de diabrura, inclusive espetar facas no ventre de pacatos burgueses.
Através dos tempos, e sob a ação excitante do carnaval, o tipo rudimentaríssimo de bailado que daí proviera, evoluiu, complicou-se, converteu-se, finalmente, numa das principais produções da arte brasileira mais autêntica, rica de seiva e estuante de originalidade -- tão original mesmo, que logra ser uma expressão, do belo, mediante o cultivo proposital, sistemático, intenso, do feio...
 
(Lima, Benjamin. "A estranha origem do frevo". Jornal do Commercio. Recife, 4 de março de 1962, suplemento, p.14)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cartórios em Belo Horizonte


Frase do parceirinho Marcos Santana:


É preferível tomar 5 injeções na veia do pescoço, tirar oito pedras nos rins, dez bichos-de-pé, assistir ao show do Calypso e passar o carnaval em BH do que enfrentar um cartório em BH. Foram exatas três horas e 45 minutos de molho e uma perguinação por três cartórios, pois todos aqui param por duas horas para almoço enquanto a fila vai pelo quarteirão abaixo no sol e com direito a invasão, brigas e puxões de cabelo. PUTZ! Renasci depois que sai daquele inferno.
Só quero saber se o João Gilberto faz isso tudo pra gravar suas músicas...


VIVA O CARNAVAL DO RECIFE!

Recebido do amigo Marcos Santana.


Gadú, Hermeto, Marina, Fernanda Takai e Zélia Duncan abrem carnaval



O carnaval do Recife está mais feminino em 2011. Um dos principais shows de abertura no Marco Zero reunirá 11 cantoras da música popular brasileira, com a participação de Maria Gadú, Marina Lima, Fernanda Takai, Zélia Duncan, Céu, Karina Buhr, Roberta Sá, Mariana Aydar, Isaar, Nena Queiroga e Elba Ramalho (algumas delas também presentes nos palcos dos outro polos). A programação completa foi anunciada pelo prefeito João da Costa em entrevista coletiva cedida na manhã desta quinta.
Essa presença feminina pode ser interpretada como uma homenagem a Dilma, mas também celebra a coincidência do carnaval com o dia internacional da mulher (8 de março, em plena "terça-feira gorda"). Mais uma vez, a programação segue basicamente o mesmo estilo dos dez últimos anos, mas com algumas novidades pontuais, como uma noite dedicada à diversidade sexual no Pátio de São Pedro (sábado, com Preta Gil e outros convidados) e a inclusão de um novo polo descentralizado na Bomba do Hemetério.
Ainda entre as atrações da sexta, destaca-se a presença de Yamandú Costa, Hermeto Pascoal e Carlos Malta no show da orquestra do Maestro Duda (um dos homenageados), que resulta em um encontro entre grandes nomes música instrumental do Brasil. Também no ritual de abertura (antes dos shows de Duda e das mulheres, nessa ordem), Naná Vasconcelos volta a conduzir 500 percussionistas de maracatus nação, que desta vez serão acompanhados por caboclinhos, afoxés e caboclos-de-lança no cortejo iniciado às 18h.
Em 2011, pela primeira vez, a programação dos polos descentralizados recebeu mais investimentos (R$ 2,6 milhões) do que os palcos do Centro do Recife (R$ 2,4 milhões). Com isso, artistas famosos nacionalmente devem tocar na periferia da cidade: Zélia Duncan e Preta Gil em Brasília Teimosa; Emílio Santiago, Lia de Itamaracá e Alceu Valença em Chão de Estrelas; Vanessa da Mata, Nação Zumbi, Pitty, Demônios da Garoa, Raimundos e Reginaldo Rossi em Casa Amarela; Demônios da Garoa em Jardim São Paulo; Marcelo D2, Lenine e Eddie no Alto José do Pinho; Otto, Marina Lima, Original Olinda Style, Mart′nália, Di Melo (com A Roda) e B-Negão (com Gerson King Combo) na Várzea; Pitty, Elba Ramalho e Mombojó no Ibura. Jorge Aragão na Bomba do Hemetério. Pitty e Alceu em Nova Descoberta.
Também no palco do Marco Zero, se apresentam, na noite de sábado, Vanessa da Mata, Lenine e um show especial de Otto com Lirinha. No domingo, Marcelo D2, Nação Zumbi, Antônio Nóbrega e Orquestra Popular da Bomba do Hemetério. Na segunda, Mart′nália e Jorge Aragão. Alceu Valença, Elba Ramalho e a Orquestra do Maestro Spok na terça. Além de Preta Gil, o Pátio de São Pedro recebe artistas como Marina Lima, Júnio Barreto (com novo disco), Karina Buhr e DJ Dolores (com a volta da Orquestra Santa Massa).
Além de todos esses convidados famosos nacionalmente (muitos deles de outros estados), a programação contempla as peculiaridades da diversidade musical pernambucana, com nomes que vão de André Rio (frevo) a Matalanamão (punk rock). Também foram anunciadas as atividades da semanas pré-carnavalescas, que tem, entre as novidades, um festival dedicado ao reggae (26 e 27, na Rua da Moeda), com a participação de um convidado internacional, o artista Pax Nindi, do Zimbábue.
Segundo Renato L (secretário de cultura), as programações do Rec Beat e da Tenda Eletrônica, que ainda não têm datas para serem anunciadas, concentrarão a maior parte dos convidados de outros países e de música "de vanguarda". Baiana System, Felipe Cordeiro, Mombojó e Patrick Tor4 são as únicas atrações confirmadas pelo Rec Beat por enquanto.

Veja o que vai rolar:


Polo Marco Zero
Sexta, 4 de março

18h - Cortejo de batuqueiros de maracatu, afoxés e caboclinhos, regidos por Naná Vasconcelos
20h - Orquestra do maestro Duda, com Carlos Malta, Hermeto Pascoal, Claudionor Germano e Yamandú Costa
22h30 - Espetáculo Mulheres do Brasil

Sábado, 5 de março
21h - Orquestra Popular do Recife
22h30 - Otto e Lirinha
0h - Lenine  
2h - Vanessa da MAta

Domingo, 6 de março
21h - Antônio Nóbrega
22h30 - Orquestra popular da Bomba do Hemetério
0h - Marcelo D2
2h - Nação Zumbi

Segunda, 7 de março
22h - Clube do Samba e convidados
0h - Mart'nália
2h - Jorge Aragão

Terça, 8 de março
21h - Spokfrevo Orquestra
22h30 - Elba Ramalho
0h - Alceu Valença
2h - Apoteose com Orquestra Multicultural do Recife
3h - Arrastão do frevo, pelas ruas do Recife Antigo

» Polo Arsenal da Marinha

Sábado, 5 de março
A partir das 20h - Um Bloco em Poesia
        Getúlio Cavalcanti
        Sonoris Fábrica
        Coral Edgard Moraes
        Geraldo Maia
        Geraldo Azevedo

Domingo, 6 de março
A partir das 21h - Bloco Evocações
        Bloco Lírico O Bonde
        Bloco Eu Quero Mais
        Gonzaga Leal
        Demônios da Garoa

Segunda, 7 de março
A partir das  21h - Antúlio Madureira e Orquestra Perré Bumba
        Siba e a Fuloresta
        Nena Queiroga
        Josildo Sá, com Leo Gandelman e João Donato
        Silvério Pessoa e a Trombonada

Terça, 8 de março
A partir das 20h - Flor do Muçambê
        Bellas Marias
        As Conxitas
        Orquestra Lourdinha
        Sagrama, com Edilza, Renata Rosa e Isaar
        Orquestra 100% Mulher e convidadas

» Polo Pátio de São Pedro

Sábado, 5 de março
19h - Preta Gil
21h - Orquestra de Frevo Brasil

Domingo, 6 de março
A partir das 20h - Orquestra do Maestro Adelmo Apolôlino
        Eta Carinae
        Rogerman e Sonic Júnior
        Coco Raízes de Arcoverde
        B Negão & Seletores de Frequência + Gerson King Combo

Segunda, 7 de março
A partir das 19h - Orquestra Tangarás
        Sergio de Andrade
        Zé Cafofinho
        Alessandra Leão
        Karina Buhr
        Marina Lima

Terça, 8 de março
A partir das 19h - Orquestra do Maestro Edson Rodrigues
        Orquestra Rockfônica
        Mônica Feijó
        Junio Barreto
        Academia da Berlinda
        DJ Dolores e Orchestra Santa Massa

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CHINA - O perigo amarelo



Por Luciano Pires
Luciano Pires é diretor de marketing da Dana e profissional de comunicação

.
A China Já Está Aí!

Alguns conhecidos voltaram da China impressionados.
Um determinado produto que todo o Brasil fabrica em um milhão de unidades, uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões...

A qualidade já é equivalente. E a velocidade de reação é impressionante.

Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas...

Com preços que são uma fração dos praticados aqui.
Uma das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da região onde está instalada estão altos demais: 100 dólares.

Um operário brasileiro equivalente ganha 300 dólares no mínimo que acrescidos de impostos e benefícios representam quase 600 dólares.

Quando comparados com os 100 dólares dos chineses, que recebem praticamente zero benefícios... estamos perante uma escravatura amarela e alimentando-a...
Horas extraordinárias? Na China...? Esqueça !!!

O pessoal por lá é tão agradecido por ter um emprego que trabalha horas extras sabendo que não vão receber nada por isso...

Atrás dessa "postura" está a grande armadilha chinesa.
Não se trata de uma estratégia comercial, mas sim de uma estratégia " poder" para ganhar o mercado ocidental.

Os chineses estão tirando proveito da atitude dos 'marqueteiros' ocidentais, que preferem terceirizar a produção ficando apenas com o que ela "agrega de valor": a marca.

Dificilmente você adquire atualmente nas grandes redes comerciais dos Estados Unidos da América um produto "made in USA".

É tudo "made in China", com rótulo estadunidense.
As Empresas ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e revendendo por centenas de dólares...

Apenas lhes interessa o lucro imediato e a qualquer preço.

Mesmo ao custo do fechamento das suas fábricas e do brutal desemprego. É o que pode-se chamar de "estratégia preçonhenta".

Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China assimila essas táticas, cria unidades produtivas de alta performance, para dominar no longo prazo.

Enquanto as grandes potências mercadológicas que ficam com as marcas, com os designes...suas grifes, os chineses estão ficando com a produção, assistindo estimulando e contribuindo para o desmantelamento dos já poucos parques industriais ocidentais.

Em breve, por exemplo, já não haverá mais fábricas de tênis ou de calçados pelo mundo ocidental. Só haverá na China.

Então, num futuro próximo veremos os produtos chineses aumentando os seus preços, produzindo um "choque da manufatura", como aconteceu com o choque petrolífero nos anos setenta. Aí já será tarde de mais. Será o sumiço dos "1,99".

Então o mundo perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês.

Perceberá que alimentou um enorme dragão e acabou refém do mesmo.

Dragão este que aumentará gradativamente seus preços, já que será ele quem ditará as novas leis de mercado pois será quem manda pois terá o monopólio da produção.

Sendo ela e apenas ela quem possuirá as fábricas, inventários e empregos é quem vai regular os mercados e não os "preçonhentos".

Iremos, nós e os nossos filhos, netos... assistir a uma inversão das regras do jogo atual que terão nas economias ocidentais o impacto de uma bomba atômica... chinesa.

Nessa altura em que o mundo ocidental acordar será muito tarde.

Nesse dia, os executivos "preçonhentos" olharão tristemente para os esqueletos das suas antigas fábricas, para os técnicos aposentados jogando boliche no clube da esquina, e chorarão sobre as sucatas dos seus parques fabris desmontados.

E então lembrarão, com muitas saudades, do tempo em que ganharam dinheiro comprando "balatinho dos esclavos" chineses, vendendo caro suas "marcas- grifes "aos seus conterrâneos.

E então, entristecidos, abrirão suas "marmitas" e almoçarão as suas marcas que já deixaram de ser moda e, por isso, deixaram de ser poderosas pois foram todas copiadas...

REFLITAM E COMEÇEM A COMPRAR - JÁ - OS PRODUTOS DE FABRICAÇÃO NACIONAL, FOMENTANDO O EMPREGO EM SEU PAÍS, PELA SOBREVIVENCIA DO SEU AMIGO, DO SEU VIZINHO E ATÉ MESMO DA SUA PRÓPRIA... E DE SEUS DESCENDENTES.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Educação para a vida"

Artigo primeiro da Lei nº 11.988, de 27 de julho de 2009, que cria a Semana de Educação para a Vida, nas escolas públicas de ensino fundamental e médio de todo o País: “A atividade escolar aludida no art. 1º desta Lei terá duração de 1 (uma) semana e objetivará ministrar conhecimentos relativos a matérias não constantes do currículo obrigatório, tais como: ecologia e meio ambiente, educação para o trânsito, sexualidade, prevenção contra doenças transmissíveis, direito do consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente, etc.”

Ainda penso que a “Educação para a vida” tem que ser prioritária, majoritária, incansável e diária, onipotente, onipresente e resistente. Uma semana é pouco demais para o tamanho da nossa necessidade. E ainda mais, penso que a “Educação para a vida” deveria se tornar a base para a criação de novos currículos escolares, integrados à nossa realidade tão deficiente de praticidade, dignidade e coerência. E além do mais, de nada servirão a matemática, a física e a biologia se a “Educação para a vida” não imperar definitivamente.