terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sobre educação musical

E lá vai o homem, ser social, a equilibrar-se na corda bamba do desenvolvimento, esse ente abstrato que se incorpora à sociedade, provoca crises de comportamento e fragmenta o conjunto das relações sociais. É a experiência humana!

E lá vai o homem, a se adaptar à circunstância histórica, a modificar o meio, a se transformar em um novo homem a cada momento. É a cultura humana!

Experiência e cultura andam juntas, se tocam, viajam pelo tempo e pelo espaço através da sabedoria dos antepassados. Provocam o homem. É a educação!

De geração a geração, pela educação. Educação que deve ser naturalista, no que concerne ao estímulo à auto-descoberta e à valorização do interesse pessoal; que deve ser idealista, considerando-se a preocupação com a organização,  com o planejamento e com a metodologia e por uma disposição de promover o pensamento sintético e buscar a aplicação do conhecimento; que deve ser realista na ênfase à prática, principalmente se diminuída a importância exagerada dada aos conteúdos; e que deve ser, acima de tudo, pragmática, pela valorização da experiência, pela ampliação dos limites específicos de sua contribuição e, principalmente, pela importância dada à aplicação do conhecimento. Educação que deve ser instigante e transformadora, ao ponto de promover tempestades voluptuosas no interior do ser humano e extrair dele as suas capacidades mais recônditas. Acho que sou um eclético!

E a arte? E a música? Deve a educação se utilizar da música para cumprir o seu propósito? E por que não? Nada toca mais profundamente o ser humano do que a música, essa abstração sonora que é capaz de mexer com os sentimentos do mais bárbaro dos bárbaros. Traz em si o belo, mas extrapola tal limite ao atuar na personalidade humana, carregando um poder transformador que arrebata a criatividade, potencializa a expressividade e traz a sensibilidade à flor-da-pele. Música que deve ser ouvida. Música que deve ser tocada.

Devemos deixar de ser os egoístas que investem todas as suas forças em busca de mudar o mundo - para melhor - para seu proveito próprio. Impossível. Só se muda o mundo mudando-se as pessoas. Só se transformam as pessoas educando-as, desde a mais tenra infância, para a vida em sociedade, para uma compreensão do seu papel em relação à contemporaneidade da dinâmica social. Tal descoberta se processa no desenvolvimento de sua individualidade que só se pode manifestar se encontrar espaço para isso. Esse pode ser o papel da música na educação: fornecer o espaço à individualidade. Assim, forma-se a personalidade em estreita ligação com a própria natureza do indivíduo que, se é individual nas suas aplicações, é coletiva em suas implicações.

Uma música que eduque ou uma educação que cante? Tanto faz, ou melhor, ambas! A música, que, ensinada em sua linguagem promove a descoberta de relações estéticas infindáveis, que ouvida em sua integridade arrebata os nossos corações de pobres mortais, e que executada dá ao executante a possibilidade de vivenciar estados somente a ele permitidos, deveria se tornar um vírus imortal que se infiltrasse pela educação adentro e lhe provocasse acessos de euforia tamanhos que fossem incontroláveis. Aí, não haveria mais retorno. O homem teria que se tornar a música.

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