V DE VULVAS (Carlito Azevedo)
Penetráveis
sob a dor áspera
da estocada cega (que
vai ao fundo
e rebenta seu cristal de água) ou
sob digital delicada (um
beija-flor albino pousado
num fio de mel na Gávea)
que ruboriza
ao marasquino
tornam-se entanto
intratáveis
se, vazias de desejo,
nada se lhes dá – nem luz nem
riso – nos desvãos
de mucosa e
corrosão
Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
VULVA (Alexei Bueno)
Aracnídea boca
Sem voz, sangrando um ente
Desfeito eternamente
Num fio que se apouca
E tomba. Casa em chamas.
Umbral do sono. Rio
Do olvido, onde um cicio
De carne eriça as ramas.
Gosto do todo. Ogiva
Da vontade e do nada
A haurir, coralizada,
Quanta ânsia nela viva.
Sarça de extintos eus
A arder. Sol da penumbra
Onde se acende e obumbra
O oco onde esteve Deus.
Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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