POEMA EM FORMA DE CARTA (Augusto Massi)
Quanto tempo custa a um analfabeto
empregar corretamente genitália?
Quantos textos um homem de letras
precisa escrever para usar boceta?
Quantas primaveras uma menina leva
para saltar a palavra perereca?
Quando se perde a virgindade do poema?
Por que tamanha tara pela metáfora?
Por que falar leque, búzio, flor?
A xoxota não cabe no ventre do poema?
Como arrancar o cabaço da imagem?
A musa tem orgasmo, menstrua, urina?
Como ela se refere ao próprio sexo?
Entre mulheres importa o tamanho da vagina?
No amor é possível sussurrar clitóris?
Estou cansado de tanto engenho
dos ginecologistas da língua,
das propagandas de absorvente.
Por que essa palavra entre os dentes?
Não existe um ponto intermediário
onde se fundem o som e o sentido?
Onde se fodem baixo calão e dicionário?
Quantas perguntas sem resposta.
Leitor, perdoe esse perverso polimorfo,
que recifra em sêmen, em verso, em prosa,
o inexplicável lirismo da xoxota.
Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
SEM TÍTULO (Claudia Roquette-Pinto)
debruçar-se sobre seu aroma
faz abrir mais ainda
as pétalas, de onde ele assoma.
e enquanto mais fundo se adentra
(vermelho-puro caindo ao último grau de escuro – magenta do pistilo), vê-lo.
ei-lo que se deslinda
-impaciente centelha.
o dedo, destro, hesita,
em gesto de abelha,
ante
Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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