Reproduzo abaixo três contos de Esopo, escritos há mais de vinte e oito séculos, e suas respectivas "moral da história", como era comum nas fábulas da época, que mostram o quanto a homem, com toda sua empáfia e falsa inteligência, continua o mesmo.
TRÊS CONTOS DE ESOPO (Grécia - Cerca de 550 a.C.)
AS MÃOS, OS PÉS E O
VENTRE
Cheios de inveja,
os Pés e as Mãos disseram ao Ventre:
- só você se
aproveita dos nossos trabalhos, e não faz outra coisa do que receber nossos
ganhos sem ajudar-nos no mínimo que seja. Portanto, escolhe uma destas duas
coisas: ou encarregue-se você mesmo da sua manutenção, ou morra de fome.
Ficou, pois,
abandonado o Ventre, e não recebendo comida durante muito tempo, foi perdendo
seu calor e ficou debilitado, com o que os demais membros do corpo se
enfraqueceram também, foram perdendo as forças até que pouco depois todos eles
morreram.
Ninguém
se basta a si mesmo para tudo.
O ASNO E O
CACHORRINHO
Vendo um Asno que
seu dono acarinhava muito a um Cachorrinho, porque este vinha ao seu encontro
saudando-o com mimos e caretas, disse a si mesmo:
"Se um animal
tão pequeno é tão querido do meu amo e da sua família, muito mais eles iriam
agradecer meus carinhos, uma vez que eu valho mais e presto maiores
serviços."
Disso convencido,
o Asno, assim que viu o amo chegar, saiu correndo e relinchando do estábulo, e
entre pulos e coices pôs-se a bailar na presença do dono. Atônito o homem com
tal recepção asnal começou a rir com muita vontade. E o Asno, acreditando que
estava no caminho certo, se pôs a relinchar no ouvido do amo, colocou as patas
em cima dos ombros dele, sujou suas vestes e tratou de lamber-lhe o rosto.
Cansado o dono daquela estranha brincadeira pegou numa estaca e partiu-a nas
constas do espantado Asno.
Causas
iguais às vezes têm efeitos desiguais. Geralmente, os néscios pensam agradar
quando não fazem outra coisa que causar
desgosto e enfado.
O HOMEM BOM, O FALSO
E OS MACACOS
Dois homens, dos
quais era Bom um e o outro Falso, viajando juntos chegaram ao país dos Macacos.
O rei destes animais mandou que eles fossem detidos e trazidos a sua presença.
- o que dizem de
mim nos outros países? - perguntou-lhes.
O homem Falso
respondeu-lhe desmanchando-se em elogios, dizendo que ele parecia ser um
excelente monarca, sábio e poderoso, e que sua corte estava cheia de grandes
cavaleiros e valorosos capitães. O rei Macaco muito deliciou-se com tais
lisonjas e ordenou que aquele homem ganhasse uma recompensa.
Considerando o homem
Bom que o Falso conseguira mercês do monarca dizendo mentiras, acreditou o
infeliz que seria ainda mais premiado se dissesse a verdade. E em seguida,
perguntado pelo rei o que achava dele e dos que o rodeavam, o Bom respondeu
sinceramente:
-Não sois todos
nem mais nem menos do que macacos.
Indignado, o
soberano mandou que tirassem a vida do homem Bom.
Assim
caminha o mundo comum. Quem ama ser lisonjeado não aprecia a verdade.
Compilados do excelente livro Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal, de Flávio Moreira da Costa (org.).
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