O professor (conto de Marcos Bassul inspirado em um fato real ) A última vez que se meteu no meio de uma multidão não deixou boas lembranças. Foi no estádio do Mineirão, na final do campeonato. Chegou 10 minutos atrasado, o jogo já tinha começbado. Tinha um ingresso para a Geral (era do tempo da Geral, um anel gradeado em torno do campo onde o público assistia jogos em pé, pagando ingresso mais barato). Acima da geral havia arqubancadas e cadeiras, para quem podia pagar um pouco mais (Gonzaguinha imortralizou com muita graça e maestria em "Geraldinos e Arquibaldos"). Depois de muita esfregação e bundalelês conseguiu um lugar para se acomodar e respirou fundo. Uma vez, duas vezes, três vezes, na quarta, ao dar o impulso inicial para puxar o ar, sentiu algo macio cair meio fofo na sua cabeça e se esvaziar, soltando um líquido quente que escorreu pelo seu rosto no momento em que dava início à...
Em um certo ponto da minha vida acadêmica eu aprendi com Murray Shafer que depois da invenção do motor elétrico a sonosfera do planeta jamais seria a mesma. E o pior é que era verdade. O silêncio não é mais uma opção do indivíduo. A todo o instante há o um ruído de algum motor pairando no ar. Mesmo nos mais recônditos e isolados desertos e mares do planeta, sem ar condicionado, geladeira, automóveis e etc, você está sujeito a ouvir um jato passar sobre sua cabeça a milhares de metros. Isso é o que tinha de ser. Isso é a civilização. De uns tempos pra cá, morando num prédio do Guará I, em Brasília, descobri algo mais infernal e perturbador do que o barulho de um motor a jato: cachorros. Muitos cachorros. Não cachorros nas ruas, sem dono. Esses, pouco se vê por aqui. Cachorros com donos. Cachorros nas casas, cachorros nos apartamentos. Casas com cinco, quatro, seis cachorros. Geralmente cachorros pequenos, tipo bassets, poodles, chihuahuas e outros do tamanho da consciência comunitária...
Este texto foi escrito em 1996, durante o curso de Habilitação em Música na UnB, com a colaboração dos então alunos como eu Renato Vasconcelos e Renato Amaral "...porque é neste princípio do homem que nasce numa terra, que se embeleza dela mesma, para se enfeitar dela mesma, e se mirar nela mesma, é que sinto o que pode ser de universal, porque, para mim, quanto mais somos da terra que nascemos, mais somos universais." (Heitor Villa-Lobos) INTRODUÇÃO "O Brasil é o país do futuro". Quantas vezes e em quantos lugares já ouvimos isso! Será que somos? Será que temos condições de arcar com tal responsabilidade? Temos estrutura para virmos a ser um País sem fome, sem analfabetismo? Um país de um povo em crescimento, soberano, íntegro e, principalmente, vivo? Situada tal pergunta no banco dos réus de um tribunal da lógica, promotoria e defesa teriam argumentos para um debate que se estenderia pela eternidade a...
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