O professor (conto de Marcos Bassul inspirado em um fato real ) A última vez que se meteu no meio de uma multidão não deixou boas lembranças. Foi no estádio do Mineirão, na final do campeonato. Chegou 10 minutos atrasado, o jogo já tinha começbado. Tinha um ingresso para a Geral (era do tempo da Geral, um anel gradeado em torno do campo onde o público assistia jogos em pé, pagando ingresso mais barato). Acima da geral havia arqubancadas e cadeiras, para quem podia pagar um pouco mais (Gonzaguinha imortralizou com muita graça e maestria em "Geraldinos e Arquibaldos"). Depois de muita esfregação e bundalelês conseguiu um lugar para se acomodar e respirou fundo. Uma vez, duas vezes, três vezes, na quarta, ao dar o impulso inicial para puxar o ar, sentiu algo macio cair meio fofo na sua cabeça e se esvaziar, soltando um líquido quente que escorreu pelo seu rosto no momento em que dava início à...
Em um certo ponto da minha vida acadêmica eu aprendi com Murray Shafer que depois da invenção do motor elétrico a sonosfera do planeta jamais seria a mesma. E o pior é que era verdade. O silêncio não é mais uma opção do indivíduo. A todo o instante há o um ruído de algum motor pairando no ar. Mesmo nos mais recônditos e isolados desertos e mares do planeta, sem ar condicionado, geladeira, automóveis e etc, você está sujeito a ouvir um jato passar sobre sua cabeça a milhares de metros. Isso é o que tinha de ser. Isso é a civilização. De uns tempos pra cá, morando num prédio do Guará I, em Brasília, descobri algo mais infernal e perturbador do que o barulho de um motor a jato: cachorros. Muitos cachorros. Não cachorros nas ruas, sem dono. Esses, pouco se vê por aqui. Cachorros com donos. Cachorros nas casas, cachorros nos apartamentos. Casas com cinco, quatro, seis cachorros. Geralmente cachorros pequenos, tipo bassets, poodles, chihuahuas e outros do tamanho da consciência comunitária...
Meu canto Eu canto para aplacar a fome dos intelectos desabrigados para limpar meu corpo da fumaça do carro e do cigarro Eu canto para elevar o nível do sentimento para me impregnar de melodia de notas que voam na companhia do tempo do tempo que passa da noite pra o dia eu canto pra enfrentar a fera indomada, pungente pra me ausentar do tempo presente do sono passado eu canto porque o som é o meu elemento o ar é meu combustível e a minha voz é amiga da palavra que dança Marcos Bassul/2017
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