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Mostrando postagens de março, 2011

A LÍRICA DA CHAMA 5

V DE VULVAS (Carlito Azevedo) Penetráveis               sob a dor áspera     da estocada cega (que vai ao fundo                e rebenta seu cristal de água) ou    sob digital delicada (um            beija-flor albino pousado                   num fio de mel na Gávea)                                            que ruboriza                             ...

A LÍRICA DA CHAMA 4

POEMA EM FORMA DE CARTA (Augusto Massi) Quanto tempo custa a um analfabeto empregar corretamente genitália? Quantos textos um homem de letras precisa escrever para usar boceta? Quantas primaveras uma menina leva para saltar a palavra perereca? Quando se perde a virgindade do poema? Por que tamanha tara pela metáfora? Por que falar leque, búzio, flor? A xoxota não cabe no ventre do poema? Como arrancar o cabaço da imagem? A musa tem orgasmo, menstrua, urina? Como ela se refere ao próprio sexo? Entre mulheres importa o tamanho da vagina? No amor é possível sussurrar clitóris? Estou cansado de tanto engenho dos ginecologistas da língua, das propagandas de absorvente. Por que essa palavra entre os dentes? Não existe um ponto intermediário onde se fundem o som e o sentido? Onde se fodem baixo calão e dicionário? Quantas perguntas sem resposta. Leitor, perdoe esse perverso polimorfo, que recifra em sêmen, em verso, em prosa, o inexplicável lirismo da xoxota. Fonte: Folha de São Paulo, ...

A LÍRICA DA CHAMA 3

COMPOSIÇÃO (Rubens Rodrigues Torres F º) Enceguecido por esse teu corpo, paisagem lunar em noite de Terra cheia, vejo que o Mar da Tranqüilidade me hipnotiza com sua ausência de algas e sereias. Mas quem quer atmosfera? Basta a vertigem veloz soprando nos cabelos que ornam as regiões mais aprazíveis da imensidão resplandecente e sem arestas Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997 LOA (Carlos Ávila) aos pequenos lábios um brinde uma guirlanda um belo verso uma oferenda (roubo a ronsard) je te salue ô merveillette fente cantando-te não pago prenda apenas para que aprendas e saibas de cor que a fenda ( pettit trou ) é flor Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997

A LÍRICA DA CHAMA 2

CARTA DE TOCAR (Angela de Campos) em Volta da maÇaneta- um Pomo, um dOm um Silêncio que contrai A porta- solUços aBalam e dEntro dessa Flor (Hermética por estaR aberta Gera uma beleZa coberta de metals,) crisálLida perfeiTa prolonga o toM dissolve o espaNto num lance De dedos Que apertam as teclas do Jogo Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997 CÓDIGO MORSE (Nelson Ascher) Se indagas como, assim, sei que, no fundo, atrai-te, mais que o de Shere-Hite, o Relatório Kinsey e, quanto ao nosso encaixe futuro, não me dói de - clarar que, a Sigmund Freud, prefiro Wilhelm Reich – só para que me entendas melhor, deixa-me, dentro das regiões pudendas, expor meu argumento - com dedos – à mucosa do teu botão de rosa. Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997

A LÍRICA DA CHAMA

Em julho de 1997 a convite da Folha de São Paulo, quinze poetas escreveram versos inspirados no órgão sexual feminino, sob o título A Lírica da Chama. Durante esta semana transcreverei neste blog os poemas publicados. Iniciando temos Waly Salomão e Arnaldo Antunes. EXTERIOR (Waly Salomão) Por que a poesia tem que se confinar às paredes de dentro da vulva do poema? Por que proibir à poesia estourar os limites do grelo                                   da greta                                  da gruta e se espraiar além da grade do sol nascido quadrado? Por que a poesia tem que se sustentar de pé, cartesiana milícia enfileirada, obediente filha da pauta? Por que a poesia não pode ficar d...